Antes de tudo haver, já havia tudo – ou quase tudo: o batuque, os versos, os poetas, o canto, os fundamentos e assentamentos, os pavilhões, a iminência da festa, o cheiro bom da festa, a macumba, as torcidas, as cordas de aço, as tias, os santos (todos eles), as fés (todas elas), o barulhinho bom, o disse-me-disse, o zum-zum-zum… A DISPUTA. Havia samba, terreiro e chão. Havia o mundo, havia carnaval.
Rio de Janeiro, bairro do Engenho de Dentro, domingo, 20 de janeiro de 1929. Dia de Oxóssi, dia de São Sebastião. Zé Espinguela, líder religioso, compositor, arengueiro, jornalista, fundador da Mangueira, juntou três agremiações e um time de bambas para realizar aquele que é considerado o primeiro campeonato de samba, a origem dos desfiles de carnaval. Na disputa, nada menos que a Deixa Falar (que se transformaria em Estácio), o Conjunto de Oswaldo Cruz (futura Portela) e a Mangueira. Cartola, Heitor dos Prazeres, Benedito Lacerda, Paulo Benjamim de Oliveira, Antônio Caetano. Estavam todos lá. Estão todos, ainda hoje, aqui.
O evento aconteceu no terreiro de Espinguela, na atual rua Adolfo Bergamini, onde está localizada a quadra do Grêmio Recreativo Escola de Samba Arranco. O nosso chão.
Em 2023, festejando cinquenta anos de sua fundação, o Arranco, guiado por Zé Espinguela, mostrará o nascimento dos desfiles das escolas de samba, filhas de toda a África em chão carioca, e seus muitos caminhos até chegar ao maior espetáculo do planeta. É do Engenho de Dentro para o Mundo! De onde viemos, onde chegamos e onde nossa arte pode nos levar. Semente, raiz, tronco e fruto. ZÉ ESPINGUELA — CHÃO DO MEU TERREIRO.
** Este texto não necessariamente reflete, a opinião do FoliaDoSamba