O carnaval de 2020 marcou a estreia da promotora de justiça Simone Manigo desempenhando um papel que, além da justiça, é uma de suas paixões, o samba. Acostumada a enfrentar históricos de violência nos tribunais dos Estados Unidos, Simone chegou a Vigário Geral e se apaixonou. Amiga e aluna de Egili Oliveira, rainha de bateria da tricolor, ela foi musa da escola no último carnaval, e terá a responsabilidade de abrir o desfile da escola no próximo ano.
“É impressionante o que senti desde o primeiro momento que cheguei à Vigário para o ensaio. Uma energia sem igual, com pessoas que me acolheram e não se importaram se eu vinha da comunidade ou não, me senti parte desta família e isto foi determinante para que eu quisesse continuar fazendo parte dela. Não imaginava que poderia acontecer um convite tão honroso como este para abrir o desfile como rainha em um ano em que a escola vai falar sobre a Pequena África, lugar que conheci e onde eu tive a certeza de que a ancestralidade ainda reside”, diz Simone.
Apaixonada pela festa, Simone fala do vazio que a não-realização do carnaval causou para os amantes do evento conhecido mundialmente.
“A gente termina o Carnaval já sonhando com o próximo e, infelizmente, a pandemia fez com que o mundo parasse. A rotina de todos teve que ser reavaliada e agora estamos naquele processo de recomeço. No pouco tempo que pude participar do dia a dia da escola, vi o quanto essa manifestação cultural mexe com a vida das pessoas, não somente na emoção, mas também na parte econômica, pois muitos dependem desse trabalho nos barracões para sobreviver. Mas, no próximo ano daremos uma aula de superação”, comenta.
Com o auxílio precioso e inspirando-se em Egili, rainha de bateria de Vigário e, como ela mesma diz, sua tutora, Simone espera representar a escola que a acolheu à altura.
“Sigo as aulas de samba online com Egili e a agradeço muito por ter me apresentado Vigário Geral, uma comunidade que tem um histórico de dor transformado pela arte. Mais do que uma simples paixão pelo carnaval, Vigário traz uma identificação com as ações que eu realizo nos Estados Unidos ligadas à violência doméstica, feminicídio entre outras circunstâncias. Ela é a rainha de bateria da comunidade, do povo, cheia de carinho e generosidade e eu, apesar de não ser brasileira, quero seguir os passos dela e ser uma boa rainha ”
Advogada de formação, Simone também dá aulas de dança, sua outra paixão e tem levado um pouco mais da nossa cultura a regiões mais pobres de Nova Iorque, metrópole que tem em áreas como o Bronx, uma comunidade massiva de negros.
“Procuro estar sempre conectada com este tipo de trabalho que, ao mesmo tempo, leva alegria a crianças e jovens. Me espelho muito também nas aulas de Egili, que procura aliar a cultura do samba à preservação da ancestralidade, de nossas origens. As crianças ficam felizes e eu mais ainda”, conta a rainha de Vigário Geral.
No próximo carnaval, a Acadêmicos de Vigário Geral terá como enredo “Pequena África: Da Escravidão ao Pertencimento – Camadas de Memórias entre o Mar e o Morro”, que será desenvolvido pelos Carnavalescos Alexandre Costa, Lino Sales e Marcus do Val.
O tema será uma exaltação à região da Pequena África e toda sua população, reconhecimento de seu valor geográfico, urbano e artístico, enaltecendo suas raízes e seu pertencimento histórico-cultural.
** Este texto não necessariamente reflete, a opinião do FoliaDoSamba