Tem cuíca, tem pandeiro, surdo, cavaco e tamborim no ‘A Roda: Samba’ deste sábado de carnaval. E para falar sobre ligação do gênero com o funk e o pagode e da influência que ele recebe da favela e do subúrbio, Chico Regueira e Luiz Antonio Simas recebem na Fundição Progresso, na Lapa, Xande de Pilares, Dudu Nobre, Molejo, Tati Quebra Barraco, Nilze Carvalho e Marvvila. Na lista das músicas que dar o tom da conversa estão clássicos como ‘Eu Sou Favela’, de Bezerra da Silva, ‘Meu Nome é Favela’, de Arlindo Cruz, o samba-enredo da Mocidade ‘Chuê, Chuá…as águas vão rolar’, entre outros.
“O interessante é que essa música ‘Eu sou favela’, ela fala da favela como um problema social mas ela acaba virando, de certa maneira, uma solução, né? A favela constrói os seus modos de vida e a cultura do Rio de Janeiro acaba se alimentando profundamente da favela, daquilo que ela cria. Isso não é romantizar o precário. Não é isso! Mas como a favela acaba construindo a música, a cultura, o samba e o funk do Rio de Janeiro, que é irmão do samba carioca. Então a importância da favela como construtora de cultura e de solução de vida é absolutamente fundamental. É um problema social que acaba virando paradoxalmente uma solução pra cidade. Se a cidade olhasse mais para a favela e o que a favela cria pra resolver os seus problemas, eu acho que a gente estaria melhor”, defende Luiz Antonio Simas.
Nascida e criada na Cidade de Deus, Tati foi convidada para representar o seguimento, que revelou ela e tantos outros talentos para o mundo. “Eu sou Cidade de Deus desde pequenininha. Eu acho que a gente tem que ser o que a gente é independentemente de você dar sorte com uma música na vida. Eu era cozinheira de uma creche e depois que eu virei Tati Quebra-Barraco veio tudo muito rápido. Mas a nossa essência e o nosso pé no chão têm que estar com a gente independente de qualquer coisa. Com dinheiro entrando ou saindo, muito ou pouco, a gente tem que ser a gente”, defendeu ela, que há 15 anos saiu da Cidade de Deus, mas não deixou de frequentá-la: “Eu comprei uma casa a dez minutos da minha comunidade, chego lá rápido de mototáxi (risos). Eu estou sempre lá, tenho minhas amizades, moro aqui há 15 anos, mas minha vida realmente é lá na CDD. Eu sou muito grata a Deus por ter me dado essa casa, para os meus filhos, e que hoje está se tornando dos meus netos. Eu tenho o maior orgulho de ser da CDD, era o quartel general dos MCs, porque de lá saiu muita gente. Não é à toa que tem uma frase na minha música em que eu falo: ‘da CDD para o mundo’.
Quando o assunto abordado foi a íntima relação do samba com o subúrbio carioca e tantas melodias nascidas em nos ônibus e vagões de trem, Dudu Nobre, Xande de Pilares e Anderson, do Molejo, relembraram no programa o começo de suas respectivas carreiras. “Voltando do Cacique de Ramos, no ônibus 623, 625, a gente ficava fazendo um samba, quando o trocador gostava, ele falava assim: ‘olha, vou deixar você pular a roleta ou passar por baixo’”, contou Dudu, se divertindo.
Marvvila, ex-The Voice Brasil e representante da nova geração do pagode, foi criada em Bento Ribeiro, também contou sobre o início de carreira e como se deu sua chegada no mundo do samba. A jovem, de 23 anos, precisou começar a cantar no colégio. “Em casa a gente escutava mais gospel. Então, eu cantava escondida na escola. Mas depois dos 18 anos, comecei a me revelar. De começo, foi um susto assim. Aquela menina, filha de pastor, que seguia à risca, do nada estava lá na roda de samba cantando pagode”, contou a cantora, que começou postando seus vídeos em redes sociais: “Até o dia que começou a viralizar. E as pessoas vinham pra mim falando: ah, você é aquela menina que canta aqueles pagodes, eu adoro demais’. Então comecei a ver que o pessoal já estava me enxergando como uma mulher representando o pagode”.
Ainda no programa, coube a Andrezinho, do Molejo, fazer jus ao seu DNA ao mostrar o som da cuíca e reproduzir a paradinha criada por seu pai, Mestre André, quando o assunto chegou no carnaval. Dudu Nobre, autor de 24 sambas-enredos, com diferentes parceiros, também tirou onda como sobrinho de Mestre Jorjão. Já Nilze Carvalho e Luiz Antonio Simas lembraram da ligação do samba com choro e suas raízes nos ranchos, que antecederam os desfiles das escolas de samba. “Tudo, tudo, tudo do mesmo DNA. É aquela linha que vem cruzando, ziguezagueando e que, no final das contas, se encontram. E é a música brasileira, né?”, acredita Nilze.
E depois de Tati interpretar ‘Homem é pra sentar’, os partideiros da roda são desafiados por Chico Regueira a misturar samba com funk das antigas. Dudu Nobre, Xande de Pilares e Anderson, do Molejo, fazem bonito quando precisam improvisar, e terminam o sábado merecendo nota dez! Dez!
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